sábado, 29 de abril de 2017

RESUMOS / ABSTRACTS

RESUMOS / ABSTRACTS


CONFERÊNCIAS

ESPECTROS DE DERRIDA EM LA INVENCIÓN DEL PROYECTO ARQUITECTÓNICO. ACONTECIMENTO Y HOSPITALIDAD
Cristina de Peretti. Universidad de Madrid
Vicente Medina. Universidad de Tucuman. Argentina
Dado que el objetivo del Coloquio es debatir de qué manera los planteamientos del filósofo Jacques Derrida de espectralidad y fantasmagoría, (que en español se traduce como hantología) y especialmente nociones como Unheimlichkeit, acogida, hospitalidad, etc., afectan a la teoría y la práctica arquitectónica, (sea en la creación de espacios arquitectónicos o urbanos, en la producción de una imagen virtual, o en la herencia material de los lugares y la memoria de los espacios colectivos), esta presentación atenderá a las proposiciones derrideanas de acontecimiento y hostipitalidad en relación a la idea que llega e insemina el proceso creativo del proyecto arquitectónico. La idea proyectual, en cuanto inseminadora y diseminadora del proyecto arquitectónico, llega a la mesa de trabajo, a la psiqué del arquitecto repentinamente, como un acontecimiento inesperado. Y el arquitecto, en cuanto que especie de demiurgo creador del proyecto y de Logos / razón, recibe tal idea de manera que ésta se constituye en una suerte de pharmakon que puede ser aceptada o rechazada. A su vez, dicha idea, según como se presente puede ser amigable y en consecuencia ser recibida de forma hospitalaria, u hostil y en tal caso ser atendida hostilmente. Y en el más singular de los casos, muchas ideas arriban indecidiblemente, como una hostipitalidad, como un amigo-enemigo. Además, esa idea proyectual que llega funciona como una espectralidad o fantasmagoría puesto que en sí misma, ella acumula o reúne otras ideas e imágenes heredadas del acervo histórico cultural arquitectónico. Es una idea-herencia que remite a otras ideas-herencias y así sucesivamente, una huella de otras huellas, en una interminable e imprevisible cadena de huellas y reenvíos. Interminable porque que se comporta como una archihuella. Inimaginable porque es imposible predecir o prever cómo y cuándo vendrá dicha idea-herencia, lo cual será posiblemente como un acontecimiento inesperado, como una visitación.
Derrida presenta y desarrolla a través de sus textos los conceptos o planteamientos que fueron señalados en cursiva y que se considera pertinente estudiarlos, y también emplearlos, para ayudar a explicar y comprender los mecanismos de generación de ideas que se desarrollan inconscientemente durante las diversas etapas o fases del proceso creativo en la invención del proyecto arquitectónico. Esta hipótesis es la que se estudiará y desarrollará en esta presentación titulada Espectros de Derrida en la idea del proyecto arquitectónico. Acontecimiento y hostipitalidad.
Palabras claves: Arquitectura, Derrida, Espectros, Acontecimiento, Hostipitalidad, Herencia


WALKING TO WORK: BARE STREET
Dr. Gregory Cowan. Universty of Westminster RIBA. Celma Paese. Uniritter
This paper will consider specters of Derrida, nomadology and the war machine from Bare Streets to the thesis, Occupying Streets.  From 2007 to 2017, ‘work’ and ‘private life’ aspects of my ‘architect’ existence merged. Home-life and work-life coalesce. Work from home, homework, desk-based research and field research merge. I’m developing a ‘nomadologist’ practice. Returning from living in Europe in 1992, I studied my birthplace through its ancient Nyoongar language and culture. My nomadology is referenced theoretically in a red book (Muecke, Benterrak and Roe’s Reading the Country – 1984, 1996), in Deleuze and Guattari’s Nomadology: The War Machine (1986) and in Vilém Flusser’s Auf und Davon (1990). Critical specters in these works can be traced to Derrida’s spectrality. Deleuze and Guattari’s Nomadology traces the war machine to nomadic and sedentary forces in Ibn Khaldun’s Muqaddimah (C13). A philosopher and a psychiatrist, Gilles Deleuze and Félix Guattari collaborated in A Thousand Plateaux: Anti-Oedipus, and Capitalism and Schizophrenia (1972-80). They suggested that a ‘schizophrenic out for a walk is a better model than a neurotic lying on the analyst’s couch’ (Anti-Oedipus 1983). When Gayatri Chakravorty Spivak, as a 25 year old assistant professor in Iowa, translated On Grammatology, adding her monograph-length preface, she knew Jacques Derrida only through his book. But in the 40 year anniversary edition, she describes a “lifetime of working with and through Derrida” (Paulson LARB 2016).  Nomadology (Deleuze and Guatarri 1984) “theorizes a dynamic relationship between sedentary power and ‘schizophrenic lines of flight”. Deleuze’s desire is “to leave philosophy, but to leave it as a philosopher”. Bare Streets began developing in 2007. I walked daily through a shanty-town ‘ger khoorolol’ in peri-urban west Ulaanbaatar, Mongolia, to my work placement at the Mongolian Construction College. On one occasion, walking along a dusty street alone, a strange man stood waiting with arms outstretched to me. I might have disappeared. However as I approached, he embraced me for a few seconds in the street and then released me without a word. I must have become more local, because on another occasion, an elderly woman walking in my direction took my arm for a while and released it at a corner, and walked on. Reading the Country (Muecke Benterrak and Roe), is richly co-produced; a hybrid work of maps, text, dialogue and paintings of and about north western Australia. My thesis on street design developed a grounded methodology. Field research began in open ‘ero-epic’ dialogues with hard-to-reach diverse characters. In Frankfurt station area, through dialogues in German, I created a network between a receptionist in a ‘Chinese Hotel’, a prostitutes’ advocate, a preacher and a local kiosk attendant in Niddastrasse. Through these methods and stories, the paper will consider specters, nomadology and the war machine from Bare Streets to Occupying Streets.
Key words: Walking, Work, Language, Nomadology, Espectrality, Belonging

CAMINHANDO PARA TRABALHAR: RUAS DESNUDAS
Este artigo considerará espectros de Derrida, nomadologia ea máquina de guerra de ‘Bare Streets’ à tese, Occupying Streets. De 2007 a 2017, os aspectos de "trabalho" e "vida privada" da minha existência de "arquiteto" se fundiram. Home-vida e trabalho-vida coalesce: trabalhos da casa, os trabalhos em casa, a pesquisa de mesa e pesquisa de campo se fundem. Estou desenvolvendo uma prática de "nomadólogo". Retornando a viver na Europa em 1992, estudei meu lugar de nascimento através de sua antiga língua e cultura Nyoongar. Minha nomadologia é referenciada teoricamente em um livro vermelho (Muecke, Benterrak e Roe's Reading the Country - 1984, 1996), na Nomadologia de Deleuze e Guattari: The War Machine (1986) e em Auf und Davon (1990) de Vilém Flusser. Espectros críticos nessas obras podem ser atribuídos à espectralidade de Derrida. A Nomadologia de Deleuze e Guattari traça a máquina de guerra às forças nômades e sedentárias no Muqaddimah de Ibn Khaldun (C13). Um filósofo e um psiquiatra – Gilles Deleuze e Félix Guattari – colaboraram entre si para escrever ‘Mil Platôs’: Anti-Édipo, e Capitalismo e Esquizofrenia (1972-80). Eles sugeriram que um "esquizofrênico para uma caminhada é um modelo melhor do que um neurótico deitado no sofá do analista" (Anti-Édipo, 1983). Quando Gayatri Chakravorty Spivak, como professora assistente de 25 anos em Iowa, traduziu para Grammatology, acrescentando seu prefácio de monografia, ela conhecia Jacques Derrida apenas através de seu livro. Mas na edição de 40 anos de aniversário, ela descreve uma "vida de trabalho com e através de Derrida" (Paulson LARB 2016). Nomadologia (Deleuze e Guatarri 1984) "teoriza uma relação dinâmica entre o poder sedentário e as" linhas esquizofrênicas de fuga ". O desejo de Deleuze é "deixar a filosofia, mas deixá-la como um filósofo". ‘Bare Streets’ começou a se desenvolver em 2007. Dirigi-me diariamente através de um "khoorolol khoorolol" de shanty-town em peri-urbano oeste Ulaanbaatar, Mongólia, para meu estágio na Faculdade de Construção da Mongólia. Numa ocasião, andando sozinho por uma rua empoeirada, um homem estranho ficou esperando com os braços estendidos para mim. Eu poderia ter desaparecido. No entanto, quando me aproximei, ele me abraçou por alguns segundos na rua e depois me soltou sem dizer uma palavra. Devo ter me tornado mais local, porque em outra ocasião, uma mulher idosa andando em minha direção pegou meu braço por um tempo e o soltou, indo embora em seguida . Lendo o País (Muecke Benterrak e Roe), é rico co-produzido; Um trabalho híbrido de mapas, textos, diálogos e pinturas de e sobre o norte da Austrália Ocidental. Minha tese sobre design de rua desenvolveu uma metodologia fundamentada. A pesquisa de campo começou em diálogos abertos 'eróticos' com personagens difíceis de alcançar. Na área da estação de Frankfurt, através de diálogos em alemão, criei uma rede entre uma recepcionista de um "Hotel Chinês", um advogado de prostitutas, um pregador e um atendente de quiosque local em Niddastrasse. Através desses métodos e histórias, o jornal considerará espectros, nomadologia e a máquina de guerra de Bare Streets para Occupying Streets.
Palavras Chaves: Caminhando, Trabalho, Falando, Nomadologia, Espectralidade, Pertencimento


PENSAMENTO E ESPACIALIDADE: OS ESPECTROS QUE NOS RONDAM E NOS OBSIDIAM
Dirce Eleonora Nigro Solis. UERJ
A questão dos espectros foi desde sempre uma das preocupações bastante significativas do pensamento  de Jacques Derrida. Muito antes de Espectros de Marx, obra de 1993, Derrida já  investiga a questão da espectralidade no pensamento em geral. O espectro é uma espécie de “devir-corpo” do espírito, uma incorporação. Ao mesmo tempo, não palpável, um objeto não identificado que aparece, ou melhor, um  não-objeto, já que não se pode tocá-lo , mas é possível senti-lo. Sabemos que ele está lá. A diferença entre espectro e fantasma é sutil, iremos constatar. A filosofia, as artes, a literatura, utilizam, por vezes, um ou outro termo, indistintamente. A psicanálise trabalha com fantasmas. Pode- se pensar o fantasma então como uma das manifestações do espírito. Os fantasmas seriam um conjunto de traços (traits), mas para os propósitos da desconstrução que dá a tônica deste trabalho, podem ser ditos como rastros (traces) daquilo ainda não determinado, mas que se manifesta no “devir-corpo”. Espectros e fantasmas desafiam a lógica semântica e filosófica, a psicanálise, as artes e a arquitetura, a espacialidade de um modo geral. O espectro como uma aparição recorrente é um retornante (un revenant).  Segundo Derrida , ele pode  retornar  uma ou muitas vezes  para nos visitar, mas nem  sempre de forma acolhedora, e neste  sentido ele assombra, obsidia, aterroriza. A este modo de obsessão, Derrida chama em Espectros de Marx, “frequentação” (fréquentation). Iremos trabalhar com a frequentação dos espectros, a demarcação filosófica da espectralidade em relação à espacialidade de Ilha Grande, o presídio  de Vila Dois Rios e suas rotas de fuga. O Presídio de Vila dos Rios abrigou personalidades famosas tais como Gracialiano Ramos, Agildo Barata, Orígenes Lessa. Adaptar-se à  vida da Ilha, às condições sofríveis a que estavam condenados os presos, trazia a dimensão do insuportável e do praticamente impossível. Para muitos a única possibilidade de sobrevivência era tentar a fuga. Rotas de fuga foram traçadas para o mar,  principalmente pelas matas. Os que tentavam eram caçados pelos trilheiros locais, rastejadores conhecidos como “cachorrinhos do mato”. Terminavam por encontrar pelo caminho a morte ou recapturados, eram barbaramente torturados. São esses espectros que rondam esses destinos de aprisionamento na Ilha, o objeto do presente ensaio.
Palavras-chave: espectralidade; desconstrução; presídio de Vila Dois Rios; Rotas de fuga


¿CÓMO CONSTRUIR COM RUINAS? LA CIUDAD-REFUGIO ASEDIADA POR ESPECTROS
Sebastián Chun (Universidade de Buenos Aires-CONICET)
En “Les fins de l´homme” Derrida señala la necesidad de entrelazar dos formas de la deconstrucción. La primera consiste en situarse en el interior del edificio que se quiere solicitar, utilizando como herramienta de demolición las piedras que habitan dentro del mismo. El segundo modo invita a abandonar el terreno, salir del recinto en que estamos instalados, renunciando tanto al refugio de la morada como a los escombros que la hacen temblar. Este doble gesto, este doble movimiento que Derrida busca entretejer mediante su escritura, se resume bajo las expresiones de “no más allá” y “más allá dentro”, entendiendo por estas fórmulas la articulación entre el reconocimiento de la herencia y la problematización de la univocidad de la misma.
La metáfora edilicia nos permitirá pensar la relación entre la arquitectura y la deconstrucción, sugiriéndonos una posible construcción a partir de los deshechos, los escombros, las piedras que restan como lo otro contaminante de cualquier edificio. Y será desde esta perspectiva que abordaremos la distancia existente entre los modos de analizar  la ciudad-refugio  por parte de Lévinas y Derrida. Para el filósofo lituano, esa institución bíblica representa un límite ante la violencia desatada por la libertad individual del estado de naturaleza. Pero también expresa, en tanto metáfora del Estado liberal, una barrera contra esa otra violencia, que asedia  a la ciudad-refugio, del Estado totalitario. La encarnación de la ética levinasiana corre un riesgo insoslayable, el de dar protección a un falso asesino involuntario, es decir, de traicionar esa hospitalidad incondicional que quisiera expresar. Por lo tanto, la ciudad-refugio debe ser abandonada por un Estado mesiánico, que en Lévinas tomará la figura del Estado de Israel histórico, el cual también sabrá cerrar sus fronteras ante la llegada de cualquier/absolutamente otro. Por el lado de Derrida, la ciudad-refugio está aún por inventarse, institución por venir entendida como un modo de lo político que se verá necesariamente traicionado por sus expresiones históricas, ya que estará construido a partir de los restos que impiden el cierre sobre sí de cualquier totalidad. Derrida propone pensar una hospitalidad incondicional, es decir, hospitalaria con los espectros. Entonces, la construcción que sepa acogerlos deberá romper con la frontera entre interior y exterior. ¿Cuál será el material con el que trabajará este arquitecto por venir? Las ruinas que nos habitan y asedian, ruinas espectrales, ruinas del otro, ruinas por venir. 
PALABRAS CLAVE: Deconstrucción, Ciudad-refugio, Ética, Política, Espectro

ARQUITETURA COMO FANTASMAGORIA: DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO ÁS ESTRATÉGIAS PROJETUAIS
Paulo Reyes UFRGS
Rita de Cassia Lucena  Velloso. UFMG
A arquitetura pode ser analisada como fantasmagoria,  na medida em que, sob as condições capitalistas da produção do espaço, o conjunto das estratégias projetuais é sempre atravessado por determinações do regime das mercadorias, tanto em nível econômico quanto simbólico.  Falemos, portanto, aos fantasmas! E falemos a partir de Jacques Derrida – mais do que dar lição aos espíritos, ele nos convida a estar-com eles. Essa fala está para além do tempo presente. Não se localiza na nossa contemporaneidade, ou seja, deve exceder toda presença como presença de si e a um estar-presente efetivo. Vamos à origem, mas vamos também ao por vir, sempre um uma perspectiva de responsabilidade com o outro, seja em qual tempo for. Derrida se ocupa com uma justiça que não está indo em direção à morte, mas a uma espécie de sobre-vida que desajustaria a identidade a si de um presente vivo. Ele, ainda nos lembra, que o espectro é esse estar-aí de um ausente. Busquemos, então, Walter Benjamin como narrador da dialética das fantasmagorias. Não um um narrador das capitais oitocentistas suntuosas, mas sobretudo,  o escritor de uma  estética arquitetônica que nos habita de maneira fantasmagórica para além do tempo presente, no passado e no por vir, em uma pletora de sentidos a  serem develados no instante da compreensão (que só existe enquanto latência espectral).
Palavras-chave:  Derrida, Benjamin, fantasmagorias, espectros, fetiche

POR UMA 'TROPOGRAFIA' DAS ASSOMBRAÇÕES – OS ESPECTROS DA DESCONSTRUÇÃO PARA-ALÉM DO MEDITERRÂNEO E DO ATLÂNTICO
Rafael Haddock-Lobo. UFRJ
O objetivo dessa fala consiste em apresentar uma crítica à topografia com a qual o pensamento ocidental tradicionalmente opera. Para isso, ao invés de topos, o texto partirá de alguns tropos para pensar a relação sobre as assombrações, o espaço assombrado e aquele que presencia a aparição. A primeira parte do texto, tratará do fantasma na Europa, tomando como alegoria principal a aparição do fantasma do pai a Hamlet. Em seguida, pensaremos como tais fantasmas chegam à América do Norte, a fim de compreender o fenômeno das casas mal-assombradas e como os paranormais lidam com o espanto dos espíritos; Posteriormente, pensaremos como a questão da ancestralidade é pensada na África sob a figura de Baba Egun, ou o pai morto. Por fim, a ideia é compreender como tais heranças europeia e africana inauguram o “encosto” tal como é retratado no Brasil – não um aspecto da comunidade, nem uma assombração da propriedade, mas um espírito que elege uma pessoa por sua singularidade. A partir dessas quatro imagens, o objetivo final da fala é analisar o lugar do espectro tal como é descrito por Derrida em Espectros de Marx justamente pensando-o a partir de sua aparição, ou seja, de uma certa localização no tempo e no espaço, ao mesmo tempo em que tal aparição é justamente o que disjunta o tempo e o espaço. É nesse sentido que o espectro nunca se prestará a nenhuma topologia ou topografia, mas, talvez, podendo apenas ser pensado à luz do tropo.
Palavras-chave: Desconstrução; Espectro; Descolonialismo; Singularidade; Derrida


O DESCONJURO DOS ESPECTROS NA MODERNIDADE
Fernando Freitas Fuão. (UFRGS)
Na antiguidade greco-romana assim como também as culturas ditas primitivas que sobrevivem até hoje, os espectros e fantasmas conviviam, dentro e fora, simultaneamente com o mundo dos vivos, sejam eles como os antigos deuses lares, manes, penates, que nada mais eram que os antepassados, assim como os espíritos e assombrações (phantasiais) de toda sorte hoje que se exibem nas telas, na literatura  ou no palco dos templos religiosos. Havia uma forma de ver o invisível no mundo visível, havia um modo distinto de tocar e ser tocado por esse mundo invisível, espectral, diferente do nosso. Não conseguimos ver mais essa invisibilidade, vemos agora outras invisibilidades graças aos raio-x, microscópios e o Hubble.  A espetacularização das projeções, as fantasmagorias de Robertson, o advento da fotografia e do cine, no século XIX, parecem ter sido um intento de remover os espectros, os antepassados e as superstições das casas antigas, e também do corpo da cidade, uma espécie de exorcismo, desconjuro que virá posteriormente associado ao espectro da peste, da tuberculose e das insurreições politicas. A partir de então, a arquitetura e o urbanismo desempenharam um verdadeiro papel de caça-fantasmas, não só de um higienismo sanitarista efetuado no corpo da cidade, mas também de uma higienização espectral, uma defumação; utilizaram-se de uma série de estratégias arquitetônicas para bani-los de seus locus domestico como: luminosidade e transparência (envidraçamento), afastamento dos corpos e destituição do quarteirão medieval, eliminação da propriedade privada da terra, substituição do porão e sótão pelos pilotis e cobertura plana, entre outras tantas estratégias. Em contrapartida a modernidade vai oferecer um novo lugar seguro receptáculo para visitação, uma caixa preta que se chamará: cinema, onde proliferam toda sorte de espectros, poltergeists, mortos-vivos e os novos terrores. Esses espectros, essas arquiteturas fetiches, mercadorias modernas brilhantes e seus feiticeiros organizaram nossa cultura, ditaram suas leis aos vivos, e também de uma certa moral de como se deve habitar, como faziam os deuses lares. Pretende-se descortinar a persistência dos antigos espectros na arquitetura moderna e na cidade contemporânea e de como essa modernidade acabou por recriar novos espectros, fetiches e mercadorias; em suma rever a modernidade das cidades e sua arquitetura sob uma hauntologia derridiana.
Palavras-chave: Espectros, Jacques Derrida, arquitetura moderna, cinema, Fetiche, mercadoria.


CARTOGRAFIA E ESPECTRALIDADE, CONTRAMAPAS SOBRE A CIDADE E O URBANISMO
Celma Paese (UniRitter)
Eduardo Rocha (UFPel)
Emanuela Di Felice (UFPel)
Para Derrida acolher o diferente é acolher a sua espectralidade: reconhecendo a existência desta última propõe-se acolhê-lo sem julgar, correndo o risco do estranhamento com o estrangeiro em sua estranheza (umheimlich). Não há hospitalidade sem a espectralidade: é nela que reside o segredo. A espectralidade excede e desconstrói todas as oposições ontológicas, o ser e o nada, a vida e a morte. Se a hospitalidade é dar lugar ao lugar do outro, ela nos faz entende-la como sendo o fundamental fundador da história da nossa cultura, frequentemente não reconhecido como tal. Percebemos as relações entre as situações de hospitalidade e a arquitetura pela nossa identificação com os espaços, que expressam em suas formas de acolhimento as políticas de hospitalidade daquela sociedade. Na contemporaneidade, a espectralidade vive na obra animada que habita sem residir a multidimensionalidade da urbe, que eleva a velocidade dos fatos e das mudanças. Os novos comportamentos criam situações que levam à desconstrução frequente de conceitos, dogmas, paradigmas e axiomas, que num passado bem próximo eram inquestionáveis. Consequentemente, os espaços urbanos contemporâneos encontram em suas paisagens psicossociais, um estado contínuo de desconstrução de significados que até então eram obsidiados por espectros que negavam as possibilidades de transcendência dos paradigmas estéticos e espaciais da arquitetura confundindo e contradizendo as ideias daqueles que desejavam abrir outras possibilidades e sentidos de acolhimento nos espaços e caminhos. Cartografar mudanças a este nível de subjetividade é acompanhar o processo da influência da natureza dos espectros que este tempo-matéria acolhia e suas transitoriedades construindo suas representações. São cartografias abertas e conectáveis em todas as suas dimensões, desmontáveis, reversíveis, suscetíveis de receber modificações constantemente: rasgadas, revertidas, adaptáveis a montagens de qualquer natureza e podendo ser preparadas por um indivíduo, um grupo ou uma sociedade. Deleuze e Guattari as chamaram de rizomáticas, pois suas contribuições expressam multiplicidades efêmeras que brotam nos pontos de concreção dos rizomas de percepções que afloram e se transformam em sementes, de onde nascem outras multiplicidades de ideias precursoras de fatos que lidam com os velhos espectros questionando, na cidade da contemporaneidade, a sua veracidade temática.
Palavras-Chave: urbanismo contemporâneo, cartografias rizomáticas, Contramapas, multidimensionalidade, espectralidade, arquitetura e hospitalidade


FANTASMAS, FANTASIA E PERFORMANCE ARTÍSTICA
EM HISTÓRIAS DE EDIFICAÇÕES
Marcio Noronha (UFRGS / UFG)
Valquíria Guimarães Duarte (UFG)
Fabiola Arantes Morais (PUC GO)
O tema da fantasia na tópica freudiana e do fantasma no pensamento de Lacan percorre o campo das problemáticas concernentes ao trauma em Freud e à ficção estruturante da verdade em Lacan, ambas se referindo à instalação de uma cena na qual aquilo que ocupa a posição do Sujeito predica o que diz respeito ao campo do Outro. Assim, fantasia e fantasma, associam-se ainda ao tema das fantasmagorias modernas e da modernidade, pois dizem respeito a procedimentos de encenação e imaginarização do mundo do Outro. Na ordem cultural, fantasia, fantasma e fantasmagoria designam, aos moldes de Didi-Huberman e Agamben, mecanismos de montagem / bricolage / encenação, determinando as condições exatas daquilo que ganha posição expositiva, de visibilidade, do que está no campo do quadro ou no lugar da cena. Como os fantasmas revelam modos do saber e das crenças? Nestes termos, edificações são configurações topológicas que revelam temporalidades traumáticas e lembranças recalcadas na forma lida como sintoma. Neste texto a seis mãos, os(as) autores(as) investigam e exploram as relações entre fantasia e fantasma na história de edificações, lidas como imagens e lidas como cenas (lugares de ação e performance) que integram a produção recente da história da arquitetura moderna e contemporânea, em estudo de casos brasileiros – o edifício da Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, RS), o conjunto mutante dos espaços e corredores que configuram a Escola de Artes e Arquitetura da UCG (atual PUC GO, Goiânia, GO) e o mais recente, o projeto do Porto Maravilha (Rio de Janeiro, RJ). Ao final, retoma-se e acentua-se a relação com o campo da encenação e uma teoria da cena no pensamento freudiano, com as articulações decorrentes entre encenação e performance, e, seus desdobramentos na filosofia de Jacques Derrida. Derrida opera com ambas as noções de fantasma e de fantasia/encenação em diferentes textos de caráter teórico, inclusive propondo relações explícitas entre suas reflexões e a obra freudiana. Deste modo, a parte conclusiva revisa diferentes momentos de aproximação crítica e prática à obra freudiana e as relações de Derrida com o campo da psicanálise.
Palavras-chave: fantasia, cena, fantasma, edificações, arquitetura moderna, Freud, Derrida


“A ALFORRIA ESTÁ PORVIR”:  CIDADE, ESCRITURA E CIDADANIA LÚDICA NAS MARGENS DO PÓS-ABOLIÇÃO EM CURSO (1890-1988).
Wallace Lopes Silva (Doutorando / IPPUR-UFRJ)
Com que os espectros do pós-abolição em curso no Brasil durante a conjuntura urbana (1890-1988) se atualizam no presente configurando novas configurações de existência na dinâmica da vida na esfera pública da politica na cidade? Como que um país negro silencia seus atores? Quais as estratégias do jogo cidade e politica? Quais narrativas interditadas?  Quais os dilemas deste Brasil que emerge no silenciamento de outras vozes e escrituras interditadas? Sob essa perspectiva, tentaremos nesse breve ensaio do pensamento, abrir, desvelar e lançar luz sobre alguns elementos das margens da história do pensamento politico pela via filosófica. Do exposto até o momento, iremos evidenciar o caráter das relações etnicorraciais no diálogo com a história do presente e suas formas imperativas, que produziram novas condições históricas do ator-negro e sua interdição humana silenciada no Brasil da recente democracia e suas margens.
Palavras-chave: Ator-negro, cidadania lúdica, democracia, espectros, espaço urbano, pós-abolição,


CATÁSTROFES POÉTICAS: O DEVIR PARERGONAL DE UMA INFRAESTRUTURA
Igor Guatelli. FAU-MACKENZIE
Flávia Nacif. Universidade Federal de São João del Rei
A transferência e disseminação do discurso filosófico à teoría e praxis arquitetônica e urbana  têm sido importantes desde as últimas décadas do século XX.
Falar de disseminação, da disseminação como traço-rastro do outro, presença espectral, implica em mencionar Derrida, na medida em que são conceitos operativos da filosofia derridiana; como também o são Suplemento, Parergon (como o que, supostamente, está além do limite do fundamental, o Ergon).  São conceitos que nos levam ao extra, ao “extranjero”. Estrangeiro sempre foi tudo isso no pensamento derridiano, ou seja, “aquilo que chega”, o de fora que se torna dentro permanecendo fora, uma presença espectral, não plenamente presente nem ausente. Nem dentro, nem fora, um dentro-fora, um fora-dentro que perturba a estabilidade do sentido corrente, central. Assim, o estrangeiro, o de fora, é uma questão importante, posto que os conceitos filosóficos funcionam, muitas vezes, como o estrangeiro nos discursos teóricos arquitetônicos.  A disseminação é catastrófica. O verbo Strepho, de onde vem Strophé [catastrophe], tem sentidos contraditorios: ir e voltar, se voltar em direção à, mas também rodopiar, errar; enfim, permanecer em perturbação, não se manter fixo em um [suposto] sentido original. A strophé de uma poesia, suas estrofes, podem pressupor a repetição de algo. Mas, esse retorno não volta como o mesmo, presença espectral de si-mesmo, é uma iterabilidade espectral.  Mesmo que retorne, é um retorno palintrópico, labiríntico, um espaçamento que carrega sua própria différance. Tempo e espaço são outros mesmo naquilo que retorna como supostamente o mesmo. Ao iterar, por iterar, já não temos mais a mesma situação inicial, a iteração é o espectro do anterior. No ubiquo rastro do High Line, de Nova York, interessa-nos investigar os movimentos catastrófico e espectral dessas infraestruturas urbanas, impulsionados por uma ação de “resgate”,mas, ao mesmo tempo, emuladora de ações “estrangeiras”, externas a elas, parergonais, adições arquitetônicas superestruturais [o além da estrutura]. Dentre essas ações, o projeto de Zaha Hadid em Viena, uma estrutura arquitetônica “superestrutural que  se acopla a uma infraestrutura [o aquém da estrutura] histórica existente na cidade de Viena (o viaduto Spittelau, projeto de Otto Wagner) gerando, a partir desse amálgama, uma transmutação de ambas, um devir estrutural que perturba o significado e a representação de ambos. Um outro arquivo histórico parece advir dessa ação parergonal, nem apenas superestrutura, nem apenas infraestrutura, mas, talvez, um ergon urbano espectral, ainda indiscernível.

Palavras-chave: Catástrofe/ Disseminação/ Parergon/ Infraestrutura/ Superestrutura/ Iterabilidade



RUIDOS NA CIDADE:LO-FI E OS ESPECTROS DA EXPERIÊNCIA NOS ESPAÇOS URBANOS.
Julian Grub,Guilherme Zamboni Ferreira 
O ensaio busca por um discurso explorar os espectros que rondam as arquiteturas da cidade, expondo suas formas de aparições a partir da noção de ruído. Na mesma direção do errante, será abordado o espectro da experiência do espaço, procurando assim como, na expectativa da chegada do estranho os ruídos que disjuntam os espaços naquilo que se faz origem e presente. Um discurso que não se encontra na presença, nem na ausência, mas na certeza da chegada do outro. É na experiência do absolutamente outro que o ensaio pelo ruído se faz presente. A experiência do espaço deixa a marca, o rastro de um passado sempre a contar. O ruído como efeito desta experiência seria uma interferência, contaminando e assombrando a arquitetura. Assumindo um papel questionador e crítico de como pensamos as arquiteturas da cidade. Saudamos os ruídos que nos assustam e nos transformam. Damos boas-vindas as dúvidas e incertezas reveladas pelos fantasmas que anunciam nossa incapacidade além daquilo que podemos ver. Estas sim, inerentes ao nosso processo de sentir e pensar o espaço como algo porvir, a se alcançar, numa espera infinita do acontecer.
Palavras-chaves.  Arquitetura; Espectros; Experiência; Ruído; Desconstrução.

TRAÇO, FOTOGRAFIA, MEMÓRIA: OS ESPECTROS EM OURO PRETO
Beatriz Dorfman. PUCRS
Daniela Cidade. UFRGS
Thaylini Luz. Mestranda, PROPAR/UFRGS
A proposta de trabalho parte de experiências vividas entre as cidades de Lisboa e Ouro Preto em busca de uma reflexão sobre a política da memória e da herança a partir do pensamento de Jacques Derrida. Experiências de deriva realizadas nestas cidades repletas de história poderiam se caracterizar como busca por uma política da memória do por vir, como sombras entre passado e presente, entre experiência e imagem? O que existe de espectral entre as imagens produzidas pela arquitetura na cidade? Segundo Derrida, nenhuma ética ou política parece possível e justa se não reconhecer em seu princípio os fantasmas como Outros que estão presentes, mesmo que já não estejam vivos ou que ainda estão por nascer; a desconstrução seria essa abertura ética, como um traço com relação ao qual vida e morte seriam apenas traços e traços de traços. Nessa busca, sobrepomos experiências imagéticas vivenciadas através de processos de criação em fotografia e em desenho: processos que trabalham em negativo e traço,  registros de momentos espectrais, aqueles que não pertencem mais ao tempo. Imagens que pertencem à cultura, à história e à memória. O que só existe como espectro ou como imagem: uma imagem sobrevivente, conforme Didi-Huberman. Eis as sombras de uma arquitetura: as imagens entre vida e morte, presença e ausência, entre Lisboa e Ouro preto. Sobreposições fantasmagóricas que convivem como heranças presentes nas representações, simulacros da arquitetura da cidade. As imagens espectrais misturam-se às nossas memórias, ao percorrermos as duas cidades, como fantasmas, que rondam a cidade de origem medieval e a vila colonial cujas dinâmicas são contemporâneas. O Grande Hotel em Ouro Preto é um espectro dentro de outro, é o espectro de uma arquitetura moderna, que abre espaço dentro da arquitetura colonial que, por sua vez, é um espectro da arquitetura barroca portuguesa. Espectros do barroco redobram-se em imagens e constroem as memórias da cidade contemporânea - como o texto de Marx que, para Derrida,  não é contemporâneo a si mesmo. As sombras da arquitetura como experiência coletiva sugerem a desconstrução do sentido da arquitetura de forma a encontrar, no interior da linguagem fotográfica, gráfica e suas técnicas de manipulação, contradições e aproximações capazes de revelar escolhas de uma política justa para a construção do sentido desta herança espectral. Os fantasmas da arquitetura pombalina e da arquitetura moderna, como sombras da arquitetura na fotografia desconstroem memórias e são espectros que representam críticas à vida quotidiana contemporânea.

Palavras-chave: arquitetura, fotografia, traço, espectro, memória

BRASÍLIA: ESPECTROS NO CERRADO
Gabriel Silva Fernandes. UFPEL.
Sylvio Arnoldo Dick Jantzen. FAURB-UFPel
Desenho e arquitetura, Brasília é um espectro que assombra um espaço físico de um “cerrado fantasmático”. Seus espíritos foram localizados e temporalizados. Essa interpretação aproxima-se dos temas filosóficos de Jacques Derrida, relevantes para o ensino de arquitetura e ciências humanas em geral. Discutir espectralidades é herança do scholar shakespeariano, recuperado por Derrida, desde Platão, passando por Marx: o filósofo produz e é produzido por uma linguagem “apropriada”, para um trabalho de conjurar e esconjurar espectros, geração após outra. O caráter “político-espectral” de Brasília refletiria o comércio com o poder, com forças de domesticação e submissão.
Na tradição da estética alemã, especialmente em Walter Benjamin, a arquitetura e o desenho de uma cidade teriam formas de apreensão tátil (pelas massas, pelo uso e funcional) e óptica (pelo conhecedor, estética e simbólica). Análises comportamentais e visuais são métodos e técnicas específicas de “interpelação”. Mapas, fotografias e outros materiais visuais, combinados com interpretações de textos escolhidos sobre Brasília e sua história, permitem uma reflexão estética (em geral) e suas implicações em outras áreas da cultura.  Espera-se apontar, conversar e, por fim, elaborar uma “tipologia” das crises (criticar), ou seja, desconstruir espectralidades recíprocas bem específicas de figuras duais. A dialética do senhor-escravo assombra o Plano Piloto e cidades satélites, o empreiteiro e o candango, o arquiteto e o operário, a cidade rica e a pobre, entre outras espectralidades políticas. Pretende-se reconhecer o grau em que tais espectros aderem aos sentidos produzidos pela arquitetura e desenho urbano. Atualmente, nas mídias de massas em que os fantasmas aparecem, a dualidade passado-presente revelaria, por hipótese, alterações dos possíveis sentidos dos espectros de Brasília. Com os Caminhos da Floresta — Holzwege — de Martin Heidegger transmutados em “caminhos no cerrado”, inauguram-se trilhas de uma desconstrução, acompanhadas de seus “espirituais sinais iniciais [desta canção]” (Gilberto Gil). Traços e rastros: 1) do “estranhamente familiar”: o crucifixo do Plano Piloto; 2) das Mensagens do Caixão Perdido (mensagens escritas a lápis pelos candangos nas vigas e lajes de concreto do prédio da Câmara Federal); 3) da escultura de Bruno Giorgi, “Os Guerreiros”, um ícone de trabalho de luto da produção da cidade, que expõe os limites da arquitetura e do desenho urbano para espiar, através de uma viseira, e expiar seus respectivos espectros. Em português, a homofonia é pertinente, porque a linguagem (falada) do scholar, pressupõe uma escritura e esconjura o espectro.
Palavras-chave: filosofia; arquitetura e urbanismo; estética; desconstrução; Brasília.


O CÁRCERE COMO ESPAÇO DE MORTE: ESPECTROS DE UMA NECROPOLÍTICA
Marcelo José Derzi Moraes. Doutorando – UERJ
Adriano Negris. UERJ
O objetivo deste trabalho consiste em demonstrar a maneira pela qual o lugar do encarceramento, uma das grandes tecnologias de poder nas sociedades contemporâneas, é assombrado por uma dinâmica de poder chamada necropolítica. Para cumprir a tarefa proposta, assumiremos a compreensão do espaço prisional segundo sua dimensão monstruosa, ou seja, como locus de manifestação daquilo que foi denominado por Max Stirner de monstro inumano (Unmensch). Nesse sentido, o cárcere passa a ser visto não só como local de confinamento do criminoso, tido inimigo social, mas também como efeito de uma técnica de poder aplicada aos indivíduos marginalizados. De outro lado, atentos à lição de Walter Benjamin sobre o caráter fantasmagórico do poder de polícia nas democracias modernas, entendemos que, ao menos no que tange a realidade brasileira, o espaço do cárcere é assombrado por uma necropolítica. Em síntese, a necropolítica é a expressão última da soberania que consiste no poder de decidir quem pode viver e quem deve morrer. A necropolítica opera a partir da lógica da exceção, da urgência e da ideia de inimigo, a fim de estabelecer a completa dominação de determinados indivíduos ou classe social. Logo percebemos que esse espectro assombra apenas um grupo e uma classe específica da sociedade, são eles: os negros e os pobres. O termo necropolítica foi elaborado pelo filósofo africano Achille Mbembe que, assumindo uma postura desviante acerca da perspectiva do poder em Michel Foucault, concentra seus esforços para pensar a situação do outro, que não o homem branco europeu. Para compreendermos melhor o cárcere como um espaço assombrado pelo espectro da morte, é preciso levar em conta toda uma lógica espectral que constitui a realidade, segundo os apontamentos de Jacques Derrida. Assim, vemos que a prisão como lugar de disciplina e ressocialização não se concretiza de fato. Pelo contrário, sem levar em conta a alteridade de quem está nesse lugar, a prisão torna-se uma grande farsa, um efeito de viseira que produz uma boa imagem, uma cena limpa do espaço carcerário, desviando o olhar para aquilo que lhe assombra: o espectro da necropolítica. Por fim, o resultado dessa pesquisa acenará para uma dimensão espectral onde os espaços de correção se mostrarão, na verdade, como lugares de destruição.
Palavras-chave: Espaço; Prisão; Espectro; Necropolítica.


ASSOMBRAÇÃO DA LINGUAGEM A  PARTIR DE JACQUES DERRIDA
Rodrigo do Amaral Ferreira. UERJ.
O propósito de nossa comunicação é mostrar como a discussão acerca da espectralidade elaborada por Jacques Derrida se desenvolve, sobretudo a partir de Espectros de Marx, também como uma questão sobre a linguagem. Para isso, proporemos que as noções de espectro e fantasma – do que nelas e por elas é mobilizado – resultam de um assombro que é, antes de tudo, um assombro de uma língua nas possibilidades de sua própria arquitetura. A frequentação de espectros e fantasmas parece implicar a necessidade de não nos contentarmos com apenas olhar, mas sim assumir a responsabilidade de falar àquilo que nos aparece em sua disjunção, aceitando o risco do contato com o que desliza entre a presença e a ausência, entre a vida e a não-vida. A partir desse contato espectral é mobilizada então a economia da herança, e será preciso, nesse ponto, levar em conta os valores semânticos de lei (nomos) e moradia (oikos) presentes no termo economia. Lei não apenas no sentido geral, mas também lei de distribuição (nemein) e divisão (moira), indicando que no momento em que há lei, há divisão, há economia envolvendo trocas, comércio e, sobretudo, a possibilidade de retorno. Essa circularidade define a oikonomia, compelindo a que se retorne ao ponto de partida, à morada onde a junção é possível – tema para a ontologia. Fora de uma linguagem espectral, essa circularidade regularia também a ideia de herança, fazendo com que aquele que herda pudesse se identificar ao que é herdado, deixando-se regular por esta identificação. Proporemos, contudo, acompanhando Derrida, que o espaço intervalar ocupado pelo espectro impede o retorno à origem, se levarmos em conta que seu aparecer é já uma repetição ocorrida no porvir entre o que foi e o que ainda será, odisseia inconclusa, ponto de disjunção que faz perdurar a assombração na própria linguagem espectral, passando à língua com que se fala aos espectros e dos espectros – circunscrição da hontologia. Em tempos cuja organização do espaço se estrutura a partir da semântica de termos como “pós-verdade” – também abordaremos este ponto –, faz-se necessário reiterar a atualidade e radicalidade de um pensamento veiculado por meio de uma linguagem marcadamente antitotalizante.
Palavras-chave: linguagem espectral; hontologia; desconstrução; Jacques Derrida.         


ARQUITETURA BRASILEIRA VISTA POR EDGAR GRAEFF E MIGUEL PEREIRA SOB OS FANTASMAS DO PRESTIGIO E DA MEDIOCRIDADE
Wilton Medeiros. UFG
Conforme Miguel Pereira (1984), autodidatismo e glória prematuros levados ao magistério a partir de experiências de escritório – empíricas e ensimesmadas – marcam o ensino de arquitetura no Brasil, submerso em um “padrão” de escola, que na verdade produziu meio-arquitetos. Este mesmo senso crítico em relação ao ensino de arquitetura no Brasil tanto permeia a trajetória de Miguel Pereira quanto a de Edgar Graeff, e, provavelmente ambos foram influenciados pela crítica fundante de Lucio Costa.  Por isso é que, segundo Pereira, a arquitetura brasileira se fez famosa em todo o mundo, já o ensino da arquitetura no Brasil, não. Entretanto, se substituirmos esta critica dicotômica (ontológica) pela ambivalente (hontológica), talvez possamos ampliar possibilidades de identificação das características da teoria da arquitetura brasileira ou a ausência dela. Superando assim a abordagem do ensino de arquitetura e atuação profissional como pares opostos.  Para Graeff (1961), os objetivos mais importantes da formação teórica do arquiteto estão implícitos em sua tarefa central, que é a edificação de ambientes para a existência humana. Fato este que traz subentendido a unidade entre um ensino que promova meios à percepção das condições humanas e à consequente atuação que promova profundas transformações do ambiente edificado.  Por exemplo, o surgimento de faculdades de arquitetura teria rompido o isolamento Escola/profissão, porém teria sido incapaz de fazer a transição de um modelo de “obra” como foco central, para um ensino arquitetural fundamentado na reflexão, sistematização e metodologia. É como se aí tivéssemos a figura do retornante que subsidia como um fantasma (DERRIDA 1994). Porque aí temos não simplesmente uma figura retórica, mas propriamente o caráter espectral da mercadoria, em seu “devir-fetiche”.
Palavras-chave: Arquitetura Brasileira, Edgar Graeff, Miguel Pereira, Fantasmas, Ensino e Profissão.


ACONTECIMENTO E (SEU) FANTASMA: O ASSOMBRO DE UMA OCUPAÇÃO
Rovenir Duarte. Universidade Estadual de Londrina.
Malu Magalhães Sanches. Universidade Estadual de Londrina.
Gabriela Correa Fernandes. Universidade Estadual de Londrina.
O presente artigo traz uma reflexão sobre o conceito de fantasma, presente na filosofia de Gilles Deleuze, junto ao acontecimento de uma okupação na cidade de Londrina. Este okupa se relaciona com o encontro de três corpos institucionais, o Movimento de Artistas de Rua de Londrina (MARL), o Escritório Modelo de Arquitetura-UEL (Ocas) e a Prefeitura Municipal de Londrina (PML). A questão central é entender como esse fantasma opera na superfície dos corpos (edifício e participantes do encontro), produzindo o acontecimento e a desconstrução de Modelos, Origens, Idéias, Essências ou Identidades (chamados aqui como M.O.I.E.I.s). A base teórica desta investigação do fantasma centra-se na passagem feita entre 1968 e 69 por Deleuze: do simulacro-fantasma do livro Diferença e Repetição (2000) para o acontecimento-fantasma de Lógica do Sentido (1974). Nesta primeira leitura, okupar traz em sua grafia com ‘K’ o próprio simulacro e seu fantasma, um tipo de deboche sobre a necessidade de seguir o modelo, origem, essência, idéia ou a identidade. Aqui o ‘k’ não trata da “semelhança diminuída”, um erro de cópia em dívida com os M.O.I.E.I.s, aqui não se vê o modelo como o selecionador de “boas imagens”, ao contrário, o ‘k’ revela o fantasma responsável pelo demônio que instaura a “imagem sem semelhança” e a diferença. Por outro lado, esse fantasma alcança o acontecimento, não qualquer acontecimento de uma ocupação, mas o okupar no infinitivo do puro-acontecimento. No encontro do acontecimento estudado, os corpos institucionais citados trazem seus M.O.I.E.I.s sobre Atuação, Projeto e Gestão, todos em letras maiúsculas e nomes próprios, contudo o fantasma ronda este acontecimento e a multiplicidade de sentidos está presente. O fantasma presente no acontecimento visa “contestar a identidade e (...) a perda do nome próprio” (DELEUZE, 1974, p.3), lembrando que este nome próprio é garantido pela permanência de um saber encarnado em nomes gerais (Atuação, Projeto e Gestão). Como destaca Deleuze (1974), o fantasma, o “rebelde subterrâneo”, é principalmente um fenômeno que se forma em certo momento no desenvolvimento das superfícies: corpo-linguagem. Assim, o artigo visa entender através de uma cartografia sensível às operações na superfície, as mudanças dos estados dos corpos, os efeitos deste encontro e a erosão de conceitos de Projeto, Gestão e Atuação como nomes próprios. O edifício, um dos corpos deste acontecimento, revela em seu estado a formação do fantasma, ao mesmo tempo que subsiste uma forma de pensar construída sobre a vontade de expulsar os fantasmas.
Palavras-chave: Ocupação, Fantasma, Gilles Deleuze, Filosofia da Desconstrução, Escritório Modelo.


SILHUETAS ESPECTRAIS: O DESERTO NO DESERTO DE JACQUES DERRIDA
Victor Dias Maia Soares. UERJ. Universidade de Coimbra
Este trabalho tem como objetivo o trato da questão da espectralidade no pensamento de Jacques Derrida a partir da consideração das noções de messiânico e khôra. Tratam-se, para o filósofo da desconstrução, de duas designações para o tempo e o espaço que, no âmbito de sua constituição originária, nos dá a pensar a possibilidade de todo acontecimento. Nesse sentido, buscar-se-á compreender a espectralidade de khôra enquanto o lugar sem lugar – o deserto no deserto – que é a condição quase-transcendental de possibilidade para o advento de todo e qualquer acontecimento digno deste nome. Será, pois, justamente na imbricação do espaço (khôra) e do tempo (messiânico) que a desconstrução opera uma reorientação, ou melhor, um deslocamento destas duas noções que nos permitirá pensar a incondicionalidade, por exemplo, da justiça, do outro, do perdão, entre outros, no seu para-além de toda determinação ontológica. Tal deslocamento da questão da temporalidade será mesmo aquilo que nos dará a pensar o tempo da véspera – que de resto é o próprio tempo da desconstrução. O outro nome utilizado por Derrida para designar isto que o filósofo remarca, na sua incontornável imbricação com o tempo (messiânico), como a indecidibilidade das origens, ou a origem como a própria indecidibilidade – uma origem que chega sempre na diferença, na différance –, é o nome khôra. Não sendo da ordem da presença nem da fenomenalidade, khôra não se deixa apreender segundo a tradicional lógica das oposições metafísicas. Nem inteligível nem sensível, nem paradigma de inteligibilidade nem cópia dos paradigmas, quer dizer, as coisas sensíveis e engendradas, ela marca um lugar à parte. Khôra situa o lugar sem lugar, o lugar inencontrável de uma exterioridade absoluta. Trata-se aqui, deste modo, de uma anterioridade absoluta e fora do tempo, “antes do ‘mundo’ e antes da criação, antes do dom e do ser – e khôra que há talvez ‘antes’ de qualquer ‘há’ como ‘es gibt’”. Tal noção de espaçamento possibilita, na sua irredutibilidade onto-fenomenológica, uma outra lógica do sentido, e para além dele, disseminante e espectral – que pensa de outro modo o próprio (do) sentido.
Palavras-chave: Desconstrução. Deserto. Khôra. Espectro. Messiânico.

ESPECTRALIDADES BANDIDAS E SEUS FANTASMAS URBANOS
Efreu Quintana. ULBRA. Torres-RS
Enilton Braga. ULBRA. Torres-RS
Abordamos a temática dos espectros que rondam os grandes centros urbanos, predominantemente fantasmáticos e incorpóreos, extensamente divulgados pela grande mídia e redes sociais, materializados em apenas frações de segundos. Fantasmagorias que induzem os habitantes de certas regiões a construírem proteções em suas próprias residências, gradis, alarmes, cães, muros, câmeras de segurança, mas que também alimentam o fetiche do condomínio fechado, um oásis na distópica selvageria urbana dominada pelo estranho (hostis) e inimigo estranho ou estrangeiro (hostilis). Os espectros sempre rondaram as instalações humanas, alterando apenas sua roupagem. A arquitetura residencial expressa desde os princípios de sua documentação histórica a preocupação em proteção física contra esses espectros. A casa, que naturalmente representa ao homem um omphalos, um axis mundi, quando exageradamente protegida, o isola da via pública, o que amplia a percepção de (in)segurança em relação ao outro, aos demais habitantes da cidade. Criado na disparidade social, o fetichismo do condomínio fechado nasce do desejo de diferenciação e segregação, onde um grupo de iguais se une e ergue barreiras, con-solida bordas, e cria dispositivos para a sensação de proteção coletiva. Fortalezas que causam profundas consequências na forma e na dinâmica da urbe. As fantasmagorias urbanas e as espectralidades bandidas nutrem-se do fetiche e alimentam-se umas às outras. Os espectros e os fantasmas do medo e da insegurança crescem e tomam corpo, materializam-se no espaço urbano, no mundo exterior além da muralha, retroalimentam-se. Quanto maiores as barreiras e mais segregados e pretensamente protegidos os enclaves produzidos para auto isolamento, maior a percepção dessa ameaça espectral. Corporifica-se a ameaça? O assombro é tangível?
Palavras-chave: Violência urbana; Condomínio fechado; Espectros; Bandidos.


CARTOGRAFIAS URBANAS NAS LINHAS DE FRONTEIRA: TRAVESSIAS NASS CIDADES GÊMEAS ENTRE BRASIL-URUGUAY
Lorena Maia Resende. UFPEL
Rafaela Barros Pinho. UFPEL
Fronteira não é uma linha rígida que delimita onde começa e termina um lugar ou território. Em realidade é também - ponte, corda, mas não é, absolutamente, esse o sentido comum - senso comum - que interessa.   Um espaço ou um território de fronteira é, por excelência, um território de devir. O devir como uma Zona de Experiência, que seguindo a “lógica espectral” referida por Derrida e fazendo alusão aos Espectros de Marx, uma experiência que não é nem inteligível nem sensível, nem visível nem invisível, mas que introduz uma dimensão do fantasmático dentro do político e contribui na compreensão de algumas estruturas do espaço público atual.
A experiência sobre a linha da fronteira Brasil-Uruguay, pretende através do método da cartografia sensível, entender a estrutura (cartesiana) das cidades-gêmeas e atentar para as rupturas (sensíveis), rupturas essas vistas como reestruturação do saber e das práticas sociais que modificam de muitas maneiras a produção, cognição e desejo humano. Um dos procedimentos metodológicos é a pedagogia da viagem que acontece pelo universo da descoberta, além da viagem exploratória, mas uma constatação de certos aspectos que estavam ali – ocultos – assim como as fantasmagorias no ato de desviar o olhar em busca de resquícios de outras imagens daqueles que estão ausentes, por vezes esquecidos. A viagem pode nos apontar novos e diversos caminhos a seguir (pensar). E no mesmo caminho abrindo brechas para expandir nossos próprios caminhos e sempre reorientar criticamente nossas concepções (cartografia). Na viagem por toda Fronteira Brasil-Uruguay foi possível pensar a “coexistência” nas fendas, nos espaços de espera e travessias, espaços de pensamento vazio – paradas, necessárias para elaboração e avanço das problemáticas. E, são nessas fendas que passam a predominar a troca e a coexistência entre modos de vida distintos, sem que um modelo ideal de sociedade – determinado – venha a se sobrepor a outras formas de olhar e de compreender a existência e o mundo. Coexistência entre o mundo real, da imaginação (reprodutiva) e da fantasia (criativa). Tudo através de uma superfície de contato, ou seja, uma superfície que congrega elementos sensíveis que diferenciam as coisas ditas artificiais e naturais, quanto tanto das do espírito como as dos objetos do mundo exterior. É a partir das experiências na viagem – a própria vivência – que se cria planos e atravessamentos contrapondo o discurso hegemônico de uma fronteira única, para construir uma fronteira carregada de heterogêneos e complexidades.
Palavras chaves: Fronteira. Cartografia sensível. Espectros. Pedagogia da viagem.


PROCESSOS E INTERVENÇÕES EM ARQUITETURA E URBANISMO
Luana Pavan Detoni UFPEL
Carolina Mesquita Clasen  UFPEL
Os repertórios formais na contemporaneidade não se limitam à construção, além da técnica de produção de objetos e lugares habitáveis, há sempre implicações éticas e políticas. “Processos e Intervenções em Arquitetura e Urbanismo” busca, a partir da disciplina de Atelier 2, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal de Pelotas, experienciar ações projetuais que diluem as fronteiras entre a arquitetura e urbanismo, assim como todo um sistema de oposições dominado pela lógica binária. Inicialmente, rompendo com o tradicional recorte do terreno, e com a contradição entre o que está dentro e o que está fora, é proposto um território e juntamente com ele infinitas possibilidades de temas para intervenção em arquitetura e urbanismo. Os processos projetuais, enquanto forma de escrever um modo de vida, transcendem o senso comum de um presente homogêneo. Tempos e espaços heterogêneos, descontínuos e diferentes, como na lógica da espectralidade de Derrida, possibilitam produzir lugares onde o desejo possa habitar o entre, o interstício da arte, filosofia e ciência.  A fim de fomentar outras maneiras de ver, pensar e criar são propostos exercícios que abordam sobre o desejo: figura-abstração, espaço-tempo, coleções, desconstrução, deslocamentos, sentidos, geometrizações, materialidade, fotomontagens, entre outros, que possam vir à tona no processo de atelier, impulsionados pelas questões: Afinal a quê tu veio? Qual a tua necessidade? A collage desses fragmentos potencializa a capacidade de criação nas práticas de projeto em atelier, possibilitando a materialização do pensamento, não sua representação, não existe uma correspondência, mas sim um agenciamento de conceitos. O produto “final” torna-se elemento não hierarquizável no fluxo do processo, permanecendo aberto no continuum do espaço-tempo. A cada semestre a disciplina se refaz, o conteúdo proposto é reinventado, para satisfazer as vontades/desejos/necessidades do território, assim como, dos discentes e docentes.
Palavras-chave: Processos projetuais. Ética. Espectralidade. Contemporaneidade.



RETRATOS: A PRESENÇA DE UMA AUSÊNCIA
Anelis Flores.UFRGS

Este artigo visa analisar as questões que envolvem os retratos femininos, procurando compreender as relações entre a construção das poses nas fotografias até a visão espectral que revela a fragilidade da sua existência. Segundo o poeta Baudelaire o retrato pictórico transcende a mera captação da aparência, contornos, e capta o quê se deixa ver. O retrato fotográfico, também, consegue apreender tanto a fisionomia como a personalidade, e nele permite o recorte do passado, assim como o quê se ansiava registrar para o futuro. A pesquisa realizada desenvolveu-se a partir de posicionamento sobre as imagens da efemeridade, do espectro, na retratação da mulher, fotógrafas e artistas plásticas contemporâneas, como por exemplo, Irene Cruz, Marlene Dumas e Asagi Natsume, que expõem um plano onírico e fantasmagórico em seus trabalhos sobre este tema. Segundo Barthes (1984, p.127), “a fotografia não fala daquilo que não é mais, mas apenas e com certeza daquilo que foi. Essa sutileza é decisiva. Diante de uma foto, a consciência não toma necessariamente via nostálgica da lembrança, mas, (...) a essência da fotografia consiste em ratificar o que ela representa”. O conceito de fantasmagoria de Walter Benjamin surge no século XIX, como resultado das mudanças no modelo econômico e seus modos de produção, considerando a promoção do capitalismo. O fetichismo da mercadoria de Marx aborda um dos fenômenos sociais e mercadológicos que passou a influenciar o comportamento social. Portanto a fantasmagoria e o fetichismo, na análise dos textos de Derrida, indicam uma possível afinidade com o discurso sobre as questões de gênero, para ele o espectro é uma voz estranha portadora da diferença, vinda do passado. A fantasmagoria considera a imagem de alguma coisa que está ausente, ou que não corresponde a representação imaginada, ao ampliarmos e vincularmos estes conceitos às fotografias espectrais destas mulheres podemos discutir a dominação política masculina e as ausências femininas. A fotografia é um testemunho de algo que aconteceu, uma prova, um vestígio espectral, uma memória. Esta imagem representa a verdade, às vezes retocada e ou congelada, mas sempre uma verdade. Afinal, Susan Sontag afirma que as coisas e os lugares se transformaram a partir da invenção da fotografia graças ao poder que ela tem de balizar os espaços.
Palavras-chave: fantasmagoria. fotografia. gênero.

A ESPECTRALIDADE DA RAÇA EM SARTRE E DERRIDA
Fábio Borges do Rosario, UERJ
Exploro neste trabalho o quase-conceito de espectro na obra de Jacques Derrida e o conceito de raça na obra de Jean-Paul Sartre para verificar se a raça é espectral. Busco compreender a noção de espectro em Jacques Derrida, para com e a partir do autor verificar se quando Sartre denuncia a frequentação do racialismo nas diferentes sociedades humanas, percebe a espectralidade da raça, demonstra que o racismo é um espectro que obsidia a democracia por hostilizar as singularidades racialmente diferentes. Entender como Sartre pensa os limites da democracia liberal no âmbito jurídico-ético-político na tentativa de cumprir a promessa de acolhida de todas as singularidades independentemente do pertencimento racial. Assim como, reconhecer que soçobrar os efeitos do racismo é do campo do acontecimento, do im-possível, do por vir, na democracia por vir.
Palavras-chave: Espectro, Raça, Democracia por vir.

Modos de dizer borda
TAGLIANI, Taiana Pitrez.UFPEL
MORAIS, Ecléia.UFRJ
Dizer borda é não conceituar bordas ou criar teorias ou métodos, mas uma tentativa de dizer bordar no verbo infinitivo, do tornar-se borda, buscando inverter os sentidos tradicionais dicotômicos, hegemônicos do planejamento urbano das bordas de água das cidades. Múltiplos marcados a n-1 que tensionam o modo metafísico da própria linguagem, buscando desconstruir totalidades, escapando das verdades e dos absolutos. Roubos de devir de devires Deleuzianos ou, talvez, roubos de rastros dos rastros Derridianos agenciados por sujeitos rasurados que não afirmam e nem operam por prazos, medidas, precisão, forma- padrão, leis, resoluções, códigos, zoneamento, diretrizes de ocupação que dão indícios ou fazem exigências de como ocupar as bordas de água das cidades. Fragmentos múltiplos e também difusos que tramam dizeres e imagens e desejos e saudades de agenciar bordas de água, de rio, do Arroio-Pelotas, bordas-vitor, bordas-ramil, mas também bordas salgadas do Rio de Janeiro, bordas-Tom e bordas-Vinícius e Vidigal e. Assim o bordar vai costurando, sulcando lacunas, fragilidades, desejos, materialidades rasuradas e imaterialidades que tramam o andar dos homens lentos, daqueles que plantam, navegam, surfam, correm, nadam ou, simplesmente, molham os pés. Bordas que contêm o som das ondas, dos barcos, que tocam a areia, a terra, o mato, que esquenta, esfria e chove e esconde o morro Dois Irmãos e Vidigal, mas também sacia a sede através da água de coco, do chimarrão e do mate-leão. Águas que escondem peixes, esgotos, que misturam cores e cheiros e desejos e pedidos para Iemanjá e Osum. Bordas-paisagem de tons azulados, avermelhados, cor flicts de Ziraldo, de touceira de pés de babosa, onde se para, se conversa e se roubam celulares, cordões e beijos. Bordas-água-mato, bordas-água-edifícios, desenhadas e redesenhadas pelo sorriso das crianças, gritos do vôlei, da pelada de domingo, do caminhar dos idosos, da milonga, do funk, do guarda-chuva e guarda-sol e canga e barco e lixos e redes e palheiros ou, talvez, de infinitas possibilidades de dizer bordas.
Palavras-chave: Bordas de água, desconstrução, fragmentos, dizeres.



ESCRITA E TEXTUALIDADE: CONSIDERAÇÕS SOBRE DESCONSTRUÇÃO E ARQUITETURA EM DERRIDA   
Maíra de Paula Coelho. UERJ 
O presente texto pretende abordar a relação entre escrita e textualidade a partir das considerações sobre desconstrução e arquitetura no pensamento de Jacques Derrida. Para isso o texto se debruça sobre a dinâmica da desconstrução e algumas de suas noções como quase-conceito, diferença e acolhimento. Buscaremos mostrar de que modo elas estão relacionadas com a dimensão espectral que permeia os textos filosóficos e arquitetônicos, sob a perspectiva desconstrutiva, no tocante ao âmbito da linguagem e da escritura. Também é objetivo do texto indicar de que modo a ambiência do acontecimento, segundo Derrida, resguarda a possibilidade do acolhimento e da hospitalidade da diferença e do outro. Assim como avistar que tal possibilidade pode ser entendida como abertura e resistência aos poderes instituídos no decorrer da tradição do pensamento filosófico-metafísico através do fonofalogocentrismo. Para isso, o texto almeja visitar também as considerações derridianas sobre khôra e democracia por vir, no que se refere o caráter indecidível e imprevisível de ambas as noções que remetem a vinda do outro com o qual nos relacionamos, conjuntamente com a tentativa de pensar tal relação em sua esfera ético-política.
Palavras-chave: desconstrução; textualidade; diferença.

A DESIGNALIDADE OU OS ESPECTROS DO DESENHAR
Jose Carlos Freitas Lemos. UFRGS
O que é visto e o que não é visto? O que somos capazes de ver? O que a nós é possível desenhar? De que maneiras a sociedade ocidental se apresentou, se impôs, se mostrou, se indicou, se “desenhou” em diferentes tempos e lugares? Como o desenhar implica, compromete, envolve-se com a arquitetura, com o ambiente da vida das pessoas? A ideia da Designalidade é a de uma perspectiva aberta que relaciona todas as formas históricas do “desenhar”. Com Nietzsche e Foucault, Designalidade é uma Genealogia, rede de emergências e proveniências dos discursos do desenhar. Com Derrida e Freud, Designalidade é Desconstrução em espectralidades, subversões, inversões inquietantes do desenhar que rondam, vem e voltam, as distintas experiências, reunindo-as no acervo histórico, simbólico e cultural da sociedade. Com Deleuze e Guattari, a Designalidade é um modelo de linhas, um rizoma, o qual pode dobrar, encobrir, ocultar, omitir, atrapalhar, frustrar, atalhar, fazer fugir. Linhas de fuga que afastam de uma análise totalizadora e conduzem a outros rumos, novos rizomas. Neste texto quer-se saber como a Designalidade e suas implicações sobre a arquitetura, desde os séculos XII e XIII até nossos dias, propagou sua geografia em todas as direções, latejou, expandiu e retraiu, se construiu e se desconstruiu, nasceu e frutificou onde encontrou atmosfera e possibilidades, produziu seu universo.
Palavras-chave: Designalidade, espectralidades, genealogia, rizoma.


PETER EISENMAN E JACQUES DERRIDA: ESPECTROS DO PROJETO
Otavio Leonidio
Em seu famoso não-diálogo com John Searle, Jacques Derrida explicitou sua recusa à ideia (central na obra de Searle e, antes desta, na de J. Austin) de um vínculo minimamente estável entre, de um lado, a intencionalidade originária de parte do agente que fala e faz, e de outro lado, de seus atos de fala. A questão também atravessa a obra do arquiteto norte-americano Peter Eisenman. Como projetista, no entanto, e não obstante o diálogo com Derrida,  Eisenman não se contentou em acusar, digamos, a espectralidade do agente (no caso, o projetista); através de um dispositivo específico, o diagrama, Eisenman procurou definir uma modo de ação que, a um só tempo conectasse e afastasse sujeito e seu projeto. A esse modelo de ação associou a ideia de meta-intencionalidade.  O objetivo de Eisenman, claramente, foi manter minimamente ativo um espectro alternativo - o do projetista que, manipulando (mas também sendo manipulado) pela máquina arquitetônica por ele pensada, permanecesse como núcleo originária da ação e seus produtos. Tomando como ponto de partida a leitura que Derrida faz de Austin, o presente trabalho pretende abordar a noção eisenmaniana de projeto.

Palavras-chave:: Peter Eisenman, J. Derrida, Ação, Intencionalidade, Performativo, Diagrama.

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